terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O BANHEIRO DA MÍDIA

O filme "O banheiro do Papa", dirigido pelo brasileiro César Charlone, retrata os dias antecedentes à visita do Papa João Paulo II a uma cidade "pobre" no Uruguai, na fronteira com o Brasil. Algumas passagens do filme que beiram o cômico e o revoltante retratam a cobertura da mídia sobre a "visita divina": a imprensa local, representada por um repórter carismático, porém um tanto sem-noção, cobre o cotidiano popular perante o "fato do ano" de maneira, digamos, sensacionalista e/ou irresponsável.

O cara condicionou (talvez seja ilógico atribuir tudo isso a um único indivíduo, mas é o que se pode notar na trama) a população a crer que a viagem do Papa à "quebrada" deles seria a chance ideal de tirar a barriga da miséria, por causa do (suposto) turismo que seria estabelecido. Agora serei o cara chato que sempre conta o final do filme, sem levar em conta se alguém assistiu à película ou não: no grande dia, além da população local, havia meia dúzia de brasileiros do lado da fronteira... e só. Nem é preciso ser nenhum Einsten, Sartre, Capitão Nascimento ou Jeremias "Cabra Homi" para deduzir que o prejuízo foi homérico.
Pode-se até fazer um trocadalho do carilho - tosco, diga-se de passagem - envolvendo o nome do filme e a atuação da imprensa na trama. Agora vem a pergunta que não quer calar: até em que ponto a mídia pode interferir na vida das pessoas?
Tentemos refletir um pouco: a função básica atribuída à mídia é (in)formar... seja a opinião de determinado grupo social, ou simplesmente divulgar determinado fato. Mas a formação de opinião anda de mãos dadas com a manipulação. Quando isso ocorre, meu caro, as consequências podem ser um tanto problemáticas (para não dizer catastróficas mesmo).

Talvez ninguém se lembre do caso da "Escola Base", nos idos dos anos 90... a parada foi (mais-ou-menos) a seguinte: havia uma escola de educação infantil dirigida por um casal nipônico (ou descendentes de... não me recordo agora). Por alguma "viagem" homérica ou por algum outro motivo que nem Freud explica, alguém fez uma denúncia (?) sobre supostos abusos, se é que você me entende, às crianças daquele local... A grande imprensa, na cobertura (daquele bolo de cagadas sucessivas), não apurou a veracidade dos fatos e tampouco deixou os "japas" defenderem-se (né?). Resultado: o casal não foi assassinado por muito pouco e tiveram o empreendimento arruinado e, depois de muito tempo, comprovaram que eles eram inocentes. Os grandes grupos midiáticos fizeram um mea-culpa "em off", mais por obrigação do que por qualquer outro motivo... mas a vida dos dois nipônicos nunca mais foi a mesma.

Vale citar outros exemplos: enquanto o Brasil brinca de ser feliz e pinta o nariz durante o carnaval e altas festas rolam no Paranoá, mas tudo o que passa na TV, basicamente, são os desfiles no Anhembi e na Sapucaí; durante a Copa do Mundo, também conhecida como "única época em que a galera age patrioticamente", tudo o que ouvimos é "atacante da seleção tal aparece com 'freada' na c..." (desculpa) ou "Seleção brasileira abre o seu treino ao público"... e outros fatos, talvez até mesmo mais importantes do que o torneio em si, ficam em segundo plano. Isso sem contar o último capítulo da novela vigente, o que já virou uma instituição nacional e pára um país inteiro.

Resumindo, todos - até um guri de seis, sete anos - podem notar que a abordagem sobre o nosso cotidiano é, no mínimo, tendenciosa e/ou questionável (há excessões, como em toda e qualquer regra)... Ao que parece, o que a mídia faz em seu "banheiro", aparentemente, saiu da caverna de Platão... e tudo isso vai direto para nossas casas e mentes. Até quando viveremos assim?

Nenhum comentário: