Após a minha semana de “retiro social” (preferi encarar dessa maneira, enquanto lia “Memórias do cárcere” - nada mais propício, não é mesmo?), voltei para a redação (por um milagre, efetivado), e me deparei com algo que somente havia visto em livros de História e em filmes nos quais regimes militares (especialmente na Vespúcia Latina): um censor em meu local de trabalho. No início, Zeca, nosso “gate keeper” do governo, somente fazia “presença” (ele havia se tornado amigo de todos do setor; logo, os impactos sentidos por todos nós foram sensíveis); contudo, pouco mais de um ano depois, Zeca foi trocado pelo Arthur (esse era “linha-dura”, tal qual um “xará” dele dos tempos da Ditadura militar)... O cara implicava até com notinha sobre música. Como num jogo de “ação e reação”, a população (ou melhor, a parcela que não assistia aos seriados-“placebo”) começou a manifestar-se contra as imposições do governo. Não é preciso dizer que as contra-respostas do braço armado do regime costumavam ser violentas (ao ponto de Maneco, ancião do jornal, dizer que “já havia visto aquilo antes”).
Numa espécie de câncer em desenvolvimento intenso e desenfreado, a arbritariedade do governo aumentava vertiginosamente. A seguinte foi, como eu dizia na minha adolescência, “cabulosa”: livros e revistas sobre Política, Filosofia, literatura marginal e afins pararam de ser comercializados (não preciso dizer que as editorias relacionadas a esses assuntos foram drasticamente reformuladas no jornal em que trabalhava – em outros, foram extintas mesmo)... e o mesmo valeu, posteriormente, para o cinema e para a música (para conseguir um filme do Michael Moore ou algum CD do Los Hermanos, por exemplo, somente no “mercado negro”... e torcendo para que não houvesse nenhum integrante do governo inflitrado no meio). De repente, me vi tal qual um subversivo incorrigível, para (in)felicidade dos meus pais (a minha família era do interior de São Judas, estado vizinho a São Tomé do Vale, e eles não se conformavam em ter um membro da família no “olho do furacão”).
Pois bem, se os nossos digníssimos líderes queriam formar uma sociedade (ainda mais) alienada, o objetivo estava sendo atingido “na mosca”... e, dizia o senso comum na época em que eu era “livre” e não sabia, futebol, religião e política não poderiam ser discutidos... esse ditado clássico foi radicalmente modificado pelo regime.