terça-feira, 27 de janeiro de 2009

25 DE JANEIRO - UMA ODISSÉIA SOBRE TRILHOS (PARTE II)

Fim da viagem (sobre trilhos). Estação "Interlagos". Após sair de lá, meio que por ato condicionado, me lembro de Drummond: "E agora, José?". Como eu iria fazer para chegar ao SESC? Como que por osmose, decidi ir sem rumo, seguindo o barulho... mas não poderia dar certo. Como todo forasteiro, decidi perguntar à primeira pessoa que visse pela frente (após ter falado com o bilheteiro da estação, com o guarda, com a tiazinha sentada na calçada e até mesmo com o poste - e não estava bêbado)... tive de andar um bom trecho até o ponto de ônibus (eu havia me perguntado pela vigésima oitava vez: "Onde fui parar?").
Após um tempinho no ponto de ônibus (dadas as circunstâncias, aquilo pareceu uma eternidade), o ônibus (ou "coração de mãe"?) chegou... Entrou a Fiel Torcida nele. Finalmente, o SESC. Por sorte, ainda havia ingressos para o show do ex-titã (vou fazer um mea-culpa por ter me esquecido disto: eram 17h10... para um concerto que começaria às 16h, somente UMA HORA E DEZ MINUTOS não foi muito tempo de atraso).
Para encurtar mais um pouco a história: ao chegar na região do palco, decidi ligar para os meus amigos... não precisaria ser nenhum Capitão Nascimento para deduzir que eles não ouviriam nada (quem iria colocar isso na cachola dum mano desesperado?! Nem Charles Xavier conseguiria tal feito). Como dois e dois são quatro, havia uma amostra da população chinesa ali. Procurar por eles seria como brincar de "Onde está Wally", versão Itu. Tentei desencanar e curtir o (resto do) show.
A tentativa não deu muito certo. Quando eu menos esperava, lá estava tentando fazer a "varredura", meio que por ato condicionado (um ato de idiotice incondicional, diga-se de passagem). Nota: o público parecia uma miscelânea: havia uma galera dentro do típico perfil USP (estilo hipponga, vibe despretensiosa, que curte um papo cabeça - e de mandar outras coisas para a cabeça também); outros, que não queriam passar o feriado em casa... além da galera das piscinas dali.
Enquanto rolava a sessão "sucessos da rádio" no show, eu me perguntava se havia mais pessoas na mesma situação que eu... era humanamente impossível haver mais um "mané" do meu calibre naquelas bandas. De repente, surge uma luz no fim do túnel... ou melhor: uma ligação no celular. Ao melhor estilo Joseph Klimber, a chamada parou no terceiro toque, suponho. Tentei retornar, óbvio, mas não era ninguém que eu conhecesse. Só consegui ouvir "Não estou ouvindo nada" (por que será?) e "Quem está falando?". Desencanei e desliguei a ligação... apost0 que maldisseram umas cinco gerações da minha família naquele instante.
"Luz dos olhos brilham ao te ver...". O que me restava era viajar no show... está na Argentina, grite "É penta!"... não havia muito a fazer. "Luz dos olhos", por sinal, é a minha música favorita do Nando Reis. Pouco tempo (umas duas músicas) depois, o show já era... debandada geral. Reação óbvia: procurar por algum ponto de intersecção para tentar vê-los. Enquanto isso, fui fazer uma ligação para desculpar-me pelo "trote"... desculpas aceitas, pensei em puxar papo, mas não tinha créditos - e nem "cabeça" - para fazê-lo.
Como num passe de mágica, o contato com meus amigos foi restabelecido. Após (conseguir a façanha de) encontrá-los, ouço a seguinte brincadeira: "Amauri, por isso que você não nos encontrou... você está sem os óculos.". Consta também que a galera estava, praticamente, nas primeiras filas... y yo, obviamente, no fundão... quase passando mal e, por pouco, não entrando na brisa por osmose.
Epílogo: vale citar que, na volta, por causa da chuva, o Rio Pinheiros mandou uma lembrança odorífica de sua existência... e esta história irá sair em definitivo dos trilhos.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

25 DE JANEIRO - UMA ODISSÉIA SOBRE TRILHOS (PARTE I)

Começo de tarde de domingo. Domingo de feriado, diga-se de passagem. Tento combinar com os meus amigos para fazer algo - algo meio cult, de preferência... ou o que aparecesse. Repentinamente, ao falar com uma amiga minha, sou "chamado" para ir ao show do Nando Reis. Nada demais, se não fosse o local: Interlagos. Para quem mora em Guarulhos e não tem carro (ou seja, pedestre full-time e 'tatu' confesso), é como tentar percorrer o trajeto da Muralha da China na íntegra. Mesmo assim, acho o som do cara muito bom... e isso pesou em minha decisão. Topei, apesar de ter titubeado por uns dois segundos. Detalhe: o concerto começaria às 16h.

Aparentemente, uma tarefa fácil até, levando-se em conta que encontraria meus amigos no local. Doce ilusão (agora me lembrei de uma música 'homônima' a esta expressão, da banda indie Banzé!)... mas, contudo, todavia (vou parar por aqui...), tudo saiu exatamente como eu não havia planejado... lhes pouparei dos fatos um tanto pitorescos que me levaram a "desplanejar" tudo... fato: 14h30 no ponto de ônibus, para pegar a primeira "sardinha" com rumo a qualquer metrô. Eu tinha praticamente uma hora e meia para "operar o 'milagre de Interlagos'"... nem precisaria ser alguém com o cérebro de Stephen Hawking ou de Glauber Rocha para deduzir que essa era uma tarefa impossível.

Encurtando um pouco a história: cheguei à Penha por volta das 15h20; e na Barra Funda, para tomar o trem às 15h55...

Durante o trajeto, algumas coisas me chamaram a atenção: o comércio (para refrescar a viagem, vai um refri ou uma cerva quente?... ou um amendoim?)... e, infelizmente, uma mulher "descendo a raquete" na sua filha, de dois anos... não sou pedagogo e nem tenho maturidade para ser pai, mas há limites... e isso tudo foi até Presidente Altino, onde eu teria de fazer a baldeação para tomar outro trem... até Interlagos (ufa!).

Depois de algum tempo de espera, lá estava no "trem espanhol". Seria a deixa perfeita para ler o jornal... como se não bastasse o fato de quase todas as notícias serem sobre Obama, crise econômica, anivarsário de São Paulo e o peso do Ronaldo, a trilha sonora estava "supimpa": havia uma galera ouvindo uma espécie de Calypso cover. Ainda tentei ler algumas crônicas de um escritor italiano sobre a construção de Brasília, mas não rolou (não pelo texto, que era ótimo, mas pela vibe do local). Decidi observar o horizonte: de um lado, a suntuosidade dos edifícios da região da Berrini; do outro, a Marginal Pinheiros.

Algumas estações adiante, a Marginal Pinheiros continuava sendo a companhia insólita e improvável de muitos passageiros daquele trem (inclusive a minha, confesso). Continuam as incongruências: os prédios de Pinheiros e o rio que deu nome à via marginal continual a formar um "ying yang" assimbiótico... além disso, o Shopping Cidade Jardim, a Meca do mundinho blasée "crasse A" - e os prédios anexos da high (?) society - em parceria improvável com casas de alvenaria de baixa renda, davam tapas na cara da galera que fechava os olhos a tantas disparidades sociais... e isso tudo em São Paulo, outrora a terra das oportunidades.

Adeus, Marginal Pinheiros. Antes disso, ao olhar para lá (cada um tem o Rio Negro que merece), comecei a ponderar que anos de "desenvolvimento" desenfreado levaram a tudo aquilo... nem a tal ponte estaiada tem moral para "limpar a barra" dali. Ao prosseguir viagem, tive a sensação de ter passado por um arco que me conduziu a outra realidade, completamente oposta à da Berrini, Vila Olímpia etc... mundo periférico, aí vou eu. Como destaque, cito um trecho do Autódromo de Interlagos, visível do trem... acho que era a Curva da Junção (por que não mudar seu nome para "Curva Timo Glock"?).

16h50. Fim da linha... e a história, apesar de ter saído dos trilhos, continuará daqui... aguardem.

domingo, 18 de janeiro de 2009

OS DENTES DA CULTURA

Há uma regra social implícita, mas divulgada incessantemente por quase todas as pessoas que conhecemos (a começar pelas nossas mães, é claro), que consiste, resumidamente, no "cuide bem para não perder"... e esse "cuidado" se extende aos dentes.

Pois bem, na última semana tive de ir ao front: ou melhor, ao consultório do dentista. Após um longo inverno, lá estava eu, para fazer o check-up e, pelo menos era o que eu temia, ouvir aquele barulho clássico do motorzinho... por causa desse aparelho, aparentemente inofensivo, faz com que muito "pai de família" chame (literalmente) pela mãe, não dormi por, pelo menos, umas duas noites; contudo, não poderia voltar atrás.

Após algum tempo, fui dar uma olhada nas revistas para leitura dos pacientes em espera... "Caras" [por que em pelo menos 90% dos consultórios há, ao menos, um exemplar desta revista? E em que o conteúdo (?) dela irá mudar a minha vida? Acho que só há mais exemplares dela em salões de cabeleireiros...], "Veja" [essa é insuperável... suas reportagens (?) são tão tendenciosas, mas tão tendenciosas, que os militares de outrosa se sentiriam orgulhosos dela]... desde que me entendo por gente, há sempre dessas revistas em consultórios, além de seus genéricos, similares etc. Algumas coisas nunca mudam.

Outra coisa "crássica" de consultório odontológico: emissoras de rádio voltadas ao flash back anos 70, 80 e 90 (essas emissoras, por sinal, são chamadas por alguns de "rádios de consultório odontológico"... por que será? E eu ainda achava que a trilha sonora perfeita para a extração do pré-molar direito fosse "Perdendo dentes", do Pato Fu...).

Convenhamos, é 1 milhão de vezes nelhor ouvir New Order, The Cure, Sade (é preferível ouvi-la em outro lugar e em ocasião completamente diferente, se é que você me entende), Djavan, Chico Buarque (até em fila de banco qualquer música do Chico vai bem), Elton John, Marvin Gaye e toda a galera da Motown do que aquele barulho irritante e agoniante do "motorzinho", além de fugir do "gosto médio" imposto pelas rádios para adolescentes. Não contarei o tratamento pelo qual passei pois este pseudo-blog não é adepto da cultura do "Camarada diário".

Falando em Elton John, ontem rolou o show do cantor britânico... não o acompanhei com veemência, mas achei os trechos do espetáculo que vi animados até... esperava um pouco mais, confesso. Os comentários sobre o concerto são animadores: o show foi ótimo, animado pacas... Até James Blunt, intépretete da nova geração e autor de músicas-chiclete do naipe de "You are beautiful" e de temas de novelas das 8 (o que dá no mesmo), mandou bem em seu show.