sábado, 18 de julho de 2009

ENSAIO SOBRE A MIOPIA


Final de tarde ensolarada, porém começando a ficar fria (estamos no inverno, lembre-se)... Clima propício para reunir os amigos num pub qualquer, num boliche, quiçá para ir ao cinema... Entretanto, ao melhor estilo Joseph Klimber ("A vida é uma caixinha de surpresas", não é mesmo?), estava indo ao oftalmologista (convenhamos, que palavrinha complicada somente para dar nome ao especialista em "zoios").

Na recepção do consultório, para variar, a espera foi longa (não tão longa assim; mas, ao basear-me em uma das teorias do "tio" Einsten, levou uma eternidade...)... já poderia sentir a sensação um tanto desagradável do colírio dilatador nos meus olhos por antecipação; mesmo assim, eu estava aproveitando para ler (a tendência era de que eu passaria o resto do dia (ou melhor, noite) míope, tendo de pedir ajuda para, simplesmente, andar em linha reta).

Depois de aproximadamente vinte minutos (que pareceram ter durado uns quarenta), finalmente fui chamado para ir ao consultório. Era um local agradável até (pelo menos não lembrava um consultório odontológico)... Ao invés daquele motorzinho "chato" do dentista, o (pseudo) carrasco era o colírio dilatador mesmo - por um instante achei que fosse o "colírio alucinógeno" de José Simão, colunista da Folha de S.Paulo.

Pouco tempo depois (acho que suficiente para ter iniciado o processo de miopia condicionada), fui enviado novamente para a sala da espera (ou tortura?). Como se não bastasse a demora incessante, continuaram as aplicações do "colírio que faz ver duendes e elefantes rosados"; e eu me sentia como se estivesse sendo submetido ao Método Ludovico, tal qual o personagem Alexander de Large em "Laranja Mecânica"... não obstante, pelo fato de ter de olhar para o teto (branco), após terem colocado o colírio (?) em meus olhos, tive a sensação de ter sido vitimado pela "cegueira branca", tal qual os personagens de "Ensaio sobre a cegueira" (livro de Jósé Saramago, adaptado para o cinema por Fernando Meirelles). Por sorte, me lembrei de abaixar a cabeça, e pude ver tudo (embaçado); e, como se não bastasse, a secretária ainda me pediu para eu assinar a via de autorização do convênio (eu somente via mata-borrões; e aposto que a minha letra (ou melhor, hieróglifo) deve ter ficado semelhante a caracteres árabes).

Por algum milagre, no final das contas, o meu grau de astigmatismo estava praticamente estável (ironicamente, estava conformado com a "nova" condição de míope)... e nem sei como consegui chegar em casa. Acho que segui o barulho mesmo.