domingo, 9 de agosto de 2009

AS INTERMITÊNCIAS DA VIDA


Era uma sexta-feira. Mesmo tendo acordado ao som de Marvin Gaye (o toque do meu despertador é "Sexaul healing"... e não me venha com comentários maledicentes) e tendo vontade de jogar o celular na parede, além de ter aquela clássica dificuldade para acordar cedo (uma instituição nacional, não é mesmo?), eu sabia que aquele dia seria atípico... por causa de um hemograma. O meu mau-humor ia às alturas por imaginar aquela agulha (que faz marmanjo barbado e parrudo correr, aos prantos, para o colo da mãe) atravessar o meu braço tão grosso quanto um graveto.


Exame feito, biscoito (de leite, um clássico dos laboratórios desse ramo) comido e mocaccino tomado, lá fui eu para o ponto de ônibus... com band-aid no braço e tudo. Por sorte - talvez por tê-lo tomado mais próximo do início do itinerário -, ele estava vazio... e como foi bom cochilar até a estação do metrô (acho que atingi o nirvana - não a banda, cazzo - no meio do caminho).


Eu irei poupá-los dos pormenores sórditos (a quem iria interessar se eu costumo ler jornal no metrô e se a minha mesa estava com alguns documentos com análises pendentes - em virtude de problemas sistêmicos, é bom que se diga -, além de ter esperado por uns cinquenta minutos no elevador?)... Ao pegar o meu celular, vi que havia uma ligação não-atendida (de praxe... só não imaginaria que essa iria mudar o meu dia). Convenhamos, uma ligação de sua própria casa, registrada às 10h40, não é uma das coisas mais comuns no mundo.


Obviamente, como se espera de alguém que é um ser previsível, retornei a ligação. Eis que surge a voz despretensiosa do meu irmão (a minha versão "legal") no outro lado da linha; e, após ter perguntado pela "velha guarda" do clã (igual a pais), o garoto manda a seguinte: "Eles foram ao hospital... Fulano de tal morreu". Fiquei por uns dois segundos estático, com cara de quem vê a ex-namorada com outra pessoa; ou talvez um atropelamento... Tanto que uma amiga minha, que estava relativamente próxima de mim naquele momento, me perguntou se eu estava bem. "Sim, estou". Em virtude da insistência dela (segundo a própria, a minha cara não era das melhores... e olha que, mesmo quando estou bem, a minha cara não ajuda). "Um amigo da família faleceu. Não estou com vontade de sentar no canto da sala e chorar, mas estou meio 'atordoado', reconheço".


O resto do expediente foi estranho... nem modorrento, nem entusiasmente, tampouco estressante... Insosso, talvez. Espero não ter passado apatia a todos os seres que atendi à tarde (além de inexperiência... funcionário novato equivale a dores de cabeça aos chefes. Espero dar analgésicos a eles logo). Como se não bastasse, a van destinada aos colaboradores demorou muito para chegar ao prédio (ninguém "nunKassab" o porquê... será que é por causa da "lei-placebo" dos ônibus fretados?), o metrô estava "bombando" (para variar); e a avenida próxima à minha casa, inacreditavelmente, estava engarrafada ao ponto de uma formiga ficar parada por lá também.


Como diria o poeta (tão sábio quanto um participante de BBB), "Está na Argentina? Grite "É penta!"... decidi dar uma olhada nos 100 e-mails não-lidos (por negligência, preguiça, "vagabundagem") na minha "caixa"... E, depois, iria ao velório.


No meio do caminho (o meu pai estava dirigindo... por isso que hoje não estou falando sobre acidentes de trânsito), estava pensando sobre esse tema (infelizmente, a única certeza que temos na vida...). Pensava nos parentes do falecido (talvez eles estivessem desejando que o tema do livro "As intermitências da morte", de Saramago... um daqueles livros da série "1001 livros para ler antes de morrer" e que, diga-se de passagem, ainda não li. "Por que será que a "Morte" não tirou férias hoje?").


Ao vê-los ali, senti-me (obviamente) desolado, ao ponto de achar que iria chorar também... o momento mais delicado foi ver o filho ao lado do caixão, numa espécie de "diálogo retórico", um momento essencialmente introspectivo. Contudo, a alguns metros dali, havia uma roda composta somente por "barbados", tal qual o "Clube do Bolinha", na qual, para variar, só falava-se sobre futebol e automobilismo (não chegava a ser uma "amolação"... trocadilho infame, reconheço). Em outros momentos os temas foram (paradoxalmente) a vida, ufologia, o cazzo.


O clima e as circunstâncias, por si sós, eram desgastantes; sem contar o cansaço em virtude do horário. Início de madrugada, pedi para sair (simbolicamente falando). Não aguentava mais: as circunstâncias; o horário, talvez (ser "baladeiro" acidental e esporádico dá nisso). Não irei falar sobre os fatos posteriores (não estou aguentando mais abordar esse tema). O que resta, a todos nós, meros mortais, é viver cada momento intensamente (é um clichê, reconheço, mas não custa nada apelar para a teoria do carpe diem). Até a próxima, com assuntos obviamente menos fúnebres.

Um comentário:

Jéssica Batista disse...

Carpe Diem!

Oras, era um parente próximo? Morreu de que? Acredito que a morte chega para nós todos, mas é sempre triste. É muito cruel deixar alguém ir embora.

Baaah, olha a música sexy que você ouve pra acordar... eu tinha que te zuar sim! hahahahaha

Muito obrigada pelos elogios no blog hã? Gosto muito da opinião diferente, do rebate e tals..

Beijo!